Recentrar a questão do Bloco Central
A ideia de que o Bloco Central é uma solução sensata, por oposição às propostas irrealizáveis dos partidos dos extremos, dá vontade de rir: pois, pois, o comunismo é utópico, mas a coabitação leal e pacífica de Sócrates e Ferreira Leite é simples bom senso. Está bem. Contem-me outra
A ideia de que o Bloco Central é uma solução sensata, por oposição às propostas irrealizáveis dos partidos dos extremos, dá vontade de rir: pois, pois, o comunismo é utópico, mas a coabitação leal e pacífica de Sócrates e Ferreira Leite é simples bom senso. Está bem. Contem-me outra
Desejar um governo de Bloco Central é como ser do Benfica e do Sporting. Trata-se de uma aberração política que merece, evidentemente, o mais profundo desdém. Ou, no caso da comunicação social, a mais elevada atenção, mesmo que a proposta não passe de uma fantasia que ninguém leva especialmente a sério. O destaque que os media têm dado à hipótese de constituição do Bloco Central é o equivalente jornalístico da actividade daqueles cães que correm um quilómetro seguido a ladrar a um pneu. É possível, no entanto, que os cães se atirem às rodas com um pouco mais de argúcia. O que acabo de expor é uma das razões que me levam a pretender recentrar a questão do Bloco Central. A outra razão é o encanto que reside no acto de recentrar. Já se recentrou mais na política portuguesa. Recentravam-se, sobretudo, debates. Em determinado ponto de uma discussão, um dos intervenientes manifestava a intenção de recentrar o debate. Essa atitude dizia tanto sobre o debate como sobre o interveniente: sobre o debate, mostrava que, devido à acção dos outros participantes, se tinha descentrado; sobre o interveniente recentrador, revelava que tinha não só o discernimento de perceber a descentralização actual do debate, como a capacidade de o recentrar devidamente. A recentralização do problema do Bloco Central passa pela explicação da impossibilidade do Bloco Central. Uma tarefa, apesar de tudo, fácil: o leitor que conte os casos de militantes que trocaram o PCP pelo PS, e de militantes do CDS que se juntaram ao PSD. São inúmeros. Mas são muito mais raros aqueles que trocaram o PSD pelo PS e vice-versa: de facto, são os partidos mais distantes um do outro, justamente porque acabam por estar no mesmo sítio. Não faz sentido trocar um pelo outro. É como trocar o nosso carro por um exactamente igual, com o mesmo número de quilómetros e o mesmo barulho na panela de escape. É evidente que aquela gente não se pode ver. Eles têm exactamente a mesma visão do País e as mesmas soluções. A razão pela qual uns são poder e os outros oposição é realmente incompreensível, e eles revezam-se a invejarem-se e a lamentar a própria sorte. A ideia de que o Bloco Central é uma solução sensata, por oposição às propostas irrealizáveis dos partidos dos extremos, dá vontade de rir: pois, pois, o comunismo é utópico, mas a coabitação leal e pacífica de Sócrates e Ferreira Leite é simples bom senso. Está bem. Contem-me outra. Mais depressa faz sentido, portanto, um governo de Bloco Lateral. PCP e CDS unidos num executivo coeso, que pugnasse pelas melhores condições para os trabalhadores e também pelo máximo de direitos para os patrões. Ora aqui está uma ideia com valor. Vejam como, escassos minutos depois de recentrar o problema, a solução se apresenta.
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