sexta-feira, 10 de julho de 2009

"Quintas", Dia de Ricardo Araújo Pereira



Hasta la vista, Pinho
Tendo em conta o trabalho feito por Manuel Pinho no seu ministério, nenhum daqueles cornos seria, de certeza, o corno da abundância

São semanas como esta, em que um ministro é demitido e os dias seguintes são passados a tentar apurar o significado e o destinatário de um par de cornos, que me fazem perceber como estive desatento nas aulas de Ciência Política. Os chifres são, ao que vejo agora, um elemento central da actividade parlamentar, mas eu desconheço em absoluto as principais ideias produzidas sobre o tema. De Platão a John Rawls, todos lhes terão dedicado ao menos um capítulo - e eu não vi. De chavelhos, confesso, não percebo a ponta dum chavelho.

Ainda assim, é meu dever tentar perceber a razão pela qual Manuel Pinho acabou como Manolete: por causa de um par de cornos, a sua carreira chegou ao fim. Qual é, então, o significado político das hastes de Pinho? Com que fim as apontou à bancada do PCP? Quanto tempo depois da conclusão do ciclo preparatório é aceitável que, numa discussão, um indivíduo continue a fazer corninhos na direcção do seu interlocutor? São estas as questões que precisam de resposta urgente.

A queda de Pinho, mais que uma explicação política (ou até tauromáquica), tem uma explicação religiosa - até porque estava prevista na Bíblia. Chamo a atenção do leitor para o salmo 75, versículo 5: "Disse eu aos loucos: não enlouqueçais; e aos ímpios: não levanteis os cornos. Não levanteis em alto vossos cornos." Não surpreende que quem desobedece ao Senhor acabe castigado. Mas impressiona que até Deus, na sua infinita bondade, também já tenha perdido a paciência com o governo do PS. Mas que cornos eram, afinal, aqueles? Possivelmente, nunca o saberemos, mas tendo em conta o trabalho feito por Manuel Pinho no seu ministério, nenhum daqueles cornos seria, de certeza, o corno da abundância. Podemos não saber que cornos eram, mas temos uma ideia de que cornos, garantidamente, não eram.

O meu sonho é que a economia portuguesa, um dia, venha a ter a importância e a protecção que tem a honra de Bernardino Soares. O ex-ministro já tinha previsto o fim da crise mesmo antes dela se agravar, já tinha apelado ao investimento estrangeiro argumentando que os portugueses ganham pouco, já tinha garantido a salvação de empregos que acabaram por se perder, já tinha até violado a lei (quando fumou a bordo de um avião, na companhia do primeiro-ministro). Nunca teve o lugar em perigo. Mas quem faz corninhos ao Bernardino Soares tem de sair. Será importante não esquecer que Manuel Pinho era Ministro da Economia e da Inovação. E deve assinalar-se o sentido do dever que manteve até ao último minuto em funções: caiu, mas caiu a inovar. Nunca antes um Ministro da Economia havia sido demitido por falta de educação. A um Ministro da Economia não se exige muito - nem sequer que saiba de economia. Entre as regras da civilidade e as da economia, o ministro deve dominar as primeiras. As outras, logo se vê.

1 comentário:

Pensandonotempo disse...

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