sexta-feira, 7 de agosto de 2009

"Quintas", Dia de Ricardo Araújo Pereira


Em busca do esquerdismo perdido
A recusa de Joana Amaral Dias parece ser a versão actualizada da recomendação que todas as mães faziam. "Se alguém te oferecer droga, não aceites", diziam as mães antigamente. Hoje, o conselho mais ajuizado parece ser: "Se alguém te oferecer a presidência do Instituto da Droga, não aceites."

Se alguém duvida de que o PS anda desnorteado, ponha os olhos neste caso: aparentemente, os socialistas fizeram vários convites a Joana Amaral Dias. No entanto, nenhum desses convites foi um convite para sair. Eis um partido cujas prioridades estão gravemente equivocadas. Não admira que Paulo Campos tenha, numa primeira fase, desmentido o convite. Paulo Campos, como o leitor sabe, é o secretário de Estado das Obras Públicas que num dia desmentiu ter convidado Joana Amaral Dias para integrar as listas do PS e, no dia seguinte, confirmou ter tentado avaliar a disponibilidade de Joana Amaral Dias para integrar as listas do PS. Paulo Campos saberá perfeitamente que levar uma tampa de Joana Amaral Dias não envergonha ninguém. O que é grave é, tendo à disposição o número de telefone de Joana Amaral Dias, e podendo formular-lhe um convite, fazer-lhe uma proposta de carácter político-partidário. É evidente, por isso, que o que Paulo Campos pretendeu desmentir não foi a existência de um convite, mas a natureza do convite - essa sim, absurda e vergonhosa.

Quando, em certo ponto da polémica, se disse que Joana Amaral Dias tinha sido convidada, não para deputada, mas para presidente do Instituto da Droga e da Toxicodependência, a história ganhou novos contornos. Em primeiro lugar, tornou-se verdadeiramente ofensiva para o Bloco de Esquerda: quando precisam de alguém para ocupar um cargo que tem a ver com droga, a primeira escolha dos socialistas é um bloquista. Maldito preconceito. É daqueles convites que, em lugar de enobrecer o escolhido, o amesquinha. Seria o mesmo que, para presidir a um hipotético Instituto contra a Fraude Financeira, ir convidar alguém que tivesse pertencido aos governos de Cavaco Silva.

Em segundo lugar, a recusa de Joana Amaral Dias parece ser a versão actualizada da recomendação que todas as mães faziam. "Se alguém te oferecer droga, não aceites", diziam as mães antigamente. Hoje, o conselho mais ajuizado parece ser: "Se alguém te oferecer a presidência do Instituto da Droga, não aceites." O princípio é o mesmo: quer para quem aceita droga quer para quem aceita o Instituto da Droga, os primeiros tempos são bons, uma pessoa sente-se eufórica com a nova experiência, e pensa que consegue manter-se sob controlo. Mas depois dá por si a querer mais e mais, constata que se meteu numa vida degradante e sem futuro, que perdeu os amigos todos, e que tem de fazer coisas que não quer.

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