quinta-feira, 5 de março de 2009

"Quintas", Dia de Ricardo Araújo Pereira


O congresso da falta de educação
Curiosa improbabilidade ideológica: grande partido da esquerda democrática convidou o Partido Comunista Chinês para o seu congresso.
Julgo não estar longe da verdade se disser que os congressos partidários são das mais belas celebrações da democracia. Claro, a liberdade de expressão é bonita, e a possibilidade de eleger livremente um Governo é interessante, mas os congressos são um fim-de-semana prolongado de tolice democrática. Animam muito. Eis a razão pela qual custa compreender que estas excelentes festas de propaganda sejam constantemente marcadas por uma incivilidade tão violenta. Foi o caso do recente congresso do Partido Socialista. A imodéstia dos congressistas do PS é chocante, e a indelicadeza dos convidados dos outros partidos é igualmente deplorável. Para os primeiros, o congresso foi extremamente importante, por razões de tal modo evidentes que nunca são referidas; para os segundos, o congresso foi uma oportunidade perdida, no que se distinguiu, parece, dos outros congressos partidários, que ficaram conhecidos pela extraordinária utilidade e influência que tiveram na história de Portugal. Os últimos não tiveram uma palavra de agradecimento por terem sido convidados para a casa do PS - nem sequer aquelas frases de circunstância que qualquer convidado dirige ao anfitrião: nem um "esteve-se bem", nem um "obrigado por este bocadinho", nem uma menção simpática à qualidade dos croquetes - nada. Os primeiros não souberam temperar o entusiasmo, que é legítimo em quem acaba de organizar uma festa na qual Stevie Wonder e Dionne Warwick celebram o trabalho partidário de Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e tantos outros, com um pouco de humildade, que também fica bem.
Tirando a descortesia, o que se reteve da reunião magna dos militantes do PS? Por um lado, uma curiosa improbabilidade ideológica: o grande partido da esquerda democrática convidou o Partido Comunista Chinês para o seu congresso. Já se sabia que o grande partido da esquerda democrática era, na melhor das hipóteses, do centro relativamente autoritário. Mas não era público que apreciava a companhia da esquerda ditatorial.
Por outro lado, deve sublinhar-se a coragem de José Sócrates, quando pediu que fosse o povo, através do voto, a julgar o caso Freeport. É uma proposta ousada na medida em que os casos de justiça costumam ser julgados em tribunal. E arriscada porque, até hoje, nenhum tribunal condenou Sócrates, mas eu conheço muita gente do povo que acha que ele tem pinta de ser culpado.

Sem comentários: