quinta-feira, 5 de novembro de 2009

José Alberto Fateixa - Na hora da despedida

A edição nº 723 do jornal Brados do Alentejo esgotou, tendo-se registado uma autêntica “corrida” às bancas. Desta forma, e porque tenho conhecimento que algumas pessoas não tiveram a oportunidade de ler a última entrevista do presidente da Câmara Municipal de Estremoz, José Alberto Fateixa, este artigo será publicado na íntegra no blogue “Estremoz Revisited” e no site oficial do jornal Brados do Alentejo.

José Alberto Fateixa
Na hora da despedida
A terminar o seu mandato, José Alberto Fateixa reuniu com a comunicação social local (jornal Brados do Alentejo, Ecos e Rádio Despertar Voz de Estremoz) na passada segunda-feira, dia 26, na Estalagem Páteo dos Solares e deu a sua última entrevista enquanto presidente da Câmara Municipal de Estremoz, respondendo às questões colocadas pelos jornalistas durante um agradável almoço. Abordaram-se temas como os resultados das eleições autárquicas, as principais medidas tomadas durante a sua governação e o futuro de Estremoz e dos estremocenses.

Como analisa os resultados obtidos nas últimas eleições autárquicas?
Os estremocenses pronunciaram-se, fizeram as suas escolhas e elas aí estão para a governação do concelho nos próximos quatro anos.

Que balanço faz destes quatro anos de governação?
Nós assumimos um conjunto de compromissos há quatro anos. Assumimos o compromisso de promovermos a modernização da câmara enquanto instituição, de contribuir para a afirmação de Estremoz no contexto regional e lançámos o que são as bases para que o concelho se possa desenvolver e promover às pessoas um melhor bem-estar. Este mandato foi exercido num contexto especial. As obras de maior envergadura que as autarquias executam são feitas com base nos quadros comunitários e quando nós chegámos o terceiro quadro de apoio estava comprometido e não tínhamos espaço senão para acabar obras. Quando abandono o exercício deste cargo deixo um conjunto de compromissos financeiros que permitirão ao próximo executivo lançar obras que, no meu entendimento, serão importantes para tornar Estremoz mais vivo, mais forte e promover melhor cidadania às pessoas. Pretendemos organizar a casa, credibilizar a câmara junto dos fornecedores, contribuir para a afirmação de Estremoz no contexto regional e criar condições para que quando existisse financiamento podermos dar um salto qualitativo para melhorar o bem-estar e termos mais visibilidade, mais força e mais atractividade fora do concelho.

Quais serão os maiores benefícios que o seu sucessor terá da sua governação?
Fico muito satisfeito por termos conseguido que a administração pública permanecesse e reforçasse a sua presença no concelho. As respostas da saúde, da agricultura, da justiça e da educação são extremamente importantes. A decisão tomada de integrarmos as Águas do Centro Alentejo e tudo o que aí vem em termos de investimento para este próximo mandato, aquilo que foi possível fazer em termos de contratualização que, por exemplo, permitirá que a rede de estradas seja melhorada e que hajam novas intervenções num conjunto de estradas que são estruturantes na lógica do concelho, aquilo que conseguimos em termos de participação na rede de Cidades do Corredor Azul, que permitirá a intervenção na lógica da ciência e dos equipamentos da ciência ligados ao património, e o que conseguimos na área da educação, que permitirá uma intervenção de fundo no valor de quatro milhões de euros para a Escola Básica Sebastião da Gama, são, entre outras, obras físicas que deverão acontecer nos próximos tempos. Portanto, tudo isto no seu conjunto representa um investimento de cerca de 20 milhões de euros para os próximos quatro anos no concelho de Estremoz e penso que são marcas indiscutíveis de uma estratégia e de um rumo que lançámos.

Deixa de desempenhar o cargo de presidente da Câmara Municipal de Estremoz para exercer o de vereador na oposição. Como é que irá realizar esta oposição nos próximos quatro anos?
Sempre disse que aquilo que me fazia correr era Estremoz. Há quatro anos era deputado da Assembleia da República e optei por concorrer à Câmara Municipal de Estremoz. Deixei de ser deputado para me dedicar totalmente à minha cidade e ao meu concelho, defendendo as minhas propostas e as minhas ideias na conjuntura que vivemos. Não concorro contra ninguém, mas pela minha cidade e pelo meu concelho. Tenho um conjunto de compromissos que foram espelhados no programa eleitoral que apresentei aos estremocenses e que decorrem muito daquilo que foram as minhas opções ao longo de quatro anos e tentarei levá-las à prática no próximo mandato.
Não tenho nenhuma posição contra o que quer que seja, tenho as minhas convicções que serão aquelas que continuo a defender ao longo dos anos.

Se pudesse recuar quatro anos fazia tudo igual e tomava as mesmas posições?
Olhando para trás, naturalmente faria muitas coisas diferentes. A vida ensina-nos que devemos aprender com coisas que correm menos bem, mas no essencial gosto de dizer que corro pelas minhas convicções e por aquilo que entendo que são as ideias que melhor servem as pessoas. A minha ideia nunca foi servir interesses particulares, mas servir interesses gerais e estar à altura do tempo. Este é um tempo de competição entre cidades e concelhos, de dificuldades económicas para as pessoas, famílias, empresas, para o país e para o mundo. É um tempo em que os desafios são mais complexos e não é o tempo da facilidade e da palmadinha nas costas. É o tempo de sabermos para onde queremos ir e considero que um concelho sem educação é um concelho que não tem a capacidade da realização e fazer acontecer coisas. Um concelho que não seja capaz de olhar para o seu património, para o seu espaço público e recuperá-lo, para resolver as questões ambientais não é um concelho com futuro! Portanto, certamente que muitas coisas seriam diferentes, pelo menos na forma, mas na substância estou convicto e durmo com a convicção de quem escolheu o caminho da afirmação do nosso concelho numa lógica de interesse comum e geral e não do interesse particular, não das coisas comezinhas. Temos que acreditar que temos gente que faz com que o concelho tenha hipótese de ter futuro e nesta competição desenfreada, que vivemos hoje, temos que fazer ouvir a nossa voz e eu fiz ouvir a voz de Estremoz ao longo do tempo. Temos que ser capazes de juntar vontades e de melhorar a nossa auto-estima e acho que, no essencial, o fiz.
A vontade expressa nos votos foi noutro sentido e há que respeitar e tirar conclusões. O concelho tem hoje outro timoneiro, direi que a maior parte das pessoas de Estremoz que expressaram o seu voto se revêem na maneira de ser, de estar e de agir do novo presidente da câmara e o mais que posso é desejar-lhe felicidades e ao concelho.

Vamos voltar a vê-lo daqui a quatro anos na luta pela Câmara Municipal de Estremoz?
As eleições autárquicas são só um momento que ocorre de quatro em quatro anos. A vida ocorre todos os dias e cá estarei com a minha maneira de ser e de estar, com os meus ideais, como homem desta terra que optou por aqui viver a dar o seu melhor.

A abandonar o seu cargo de presidente da Câmara Municipal de Estremoz o que pensa fazer de futuro?
Sou professor há mais de 20 anos na Escola Secundária Rainha Santa Isabel e é essa a minha profissão. Não enjeito desafios desde que considere que tenha capacidades e que possa prestar um bom serviço.

Está magoado com os estremocenses?
Estou de consciência tranquila porque fiz aquilo que achava melhor. Os estremocenses, naturalmente, escolhem e tomam as opções que entendem como melhores e acredito que tomaram a opção que uma parte da população acreditou ser a melhor. Agora, tenho a certeza que, ao longo destes quatro anos, Estremoz foi ouvido, se afirmou e mostrou vitalidade. Houve inúmeras coisas que aqui aconteceram e que dão um sinal positivo da nossa cidade e do nosso concelho e este é uma marca que não é apagável.

Durante a campanha eleitoral foi criticado pela oposição por ter uma governação prepotente, arrogante e distante dos munícipes. Qual a sua opinião em relação a estas criticas?
Quem me conhece minimamente sabe que posso e, certamente, tenho muitos defeitos, mas há vários que de certeza não tenho. Prepotente e arrogante é algo que nunca fui nem nunca serei, não está na minha essência! Penso que esta opinião teve a ver com a estratégia que algumas forças adoptaram relativamente ao modo de estar na política e na vida. Não sou assim. Bato-me por aquilo que acredito e pelas ideias que julgo serem as melhores. Nunca me afirmei rebaixando os outros e nunca fiz o meu caminho querendo o mal dos outros. Nunca foi essa a minha maneira de ser e, aliás, acho que quanto melhor as pessoas tiverem mais hipóteses temos de ter uma vida e um futuro. Não considero que em termos de gestão fosse arrogante. Por vezes admito que possa não ter sido tão próximo quanto gostaria, mas por enquanto, como alguém dizia, não é possível estarmos à janela e vermo-nos na rua! Logo para poder estar a tentar resolver um conjunto de questões em Évora ou em Lisboa e estar a bater à porta de ministros e secretários de Estado não podia estar no café, no restaurante, na taberna, na loja, num sitio mais próximo a dar palmadinhas nas costas e a chamar nomes a alguém. Esta é a minha maneira de defender os interesses de todos. Sempre acreditei que as grandes decisões são tomadas nos sítios que estão mais longe de nós, em Lisboa, e, portanto, para podermos influenciar e determinar estas decisões temos que ir a Lisboa e mostrar os nossos argumentos. Ora, se por vezes estamos em Lisboa ou em Évora, nos sítios onde se decidi, não podemos estar tão perto quanto gostaríamos.
Haverá pessoas com uma ideia menor que defendem coisas que não são realizáveis e a vida política não é assim. Este é o preço que se paga por defendermos os nossos ideais e aceitarmos estar à frente de coisas!

Se pudesse escolher uma marca na sua governação qual escolheria?
Escolhia a marca do orgulho de ter dado o melhor pela minha terra, querendo, desse modo, servir o melhor que soube e sei. Tento sempre ouvir a nossa terra, dando a ambição de não me resignar às coisas pequeninas. Neste mundo global e competitivo quem não está nos sítios da decisão está fora da decisão. Tenho o orgulho de ser de Estremoz, de acreditar nas suas gentes e na sua força e capacidade realizadora.
Estremoz tem futuro e isso é importante, não ser resignada, não pode ficar de fora e a dizer que os outros não nos dão isto ou aquilo, mas antes lutar e ir aos sítios onde as coisas ocorrem e decidir ou ajudar a decidir e influenciar e dirimir argumentos para quem decidi possa ter a noção de que a voz de Estremoz foi ouvida nos sítios. Cada vez quero que mais coisas venham para aqui, mas os contextos são de encolha e de dificuldade e, nesse domínio, direi que a minha marca é a da combatividade para que a voz de Estremoz se ouça cada vez mais longe e com a ambição de termos futuro.

Estremoz tem razões para olhar para o futuro e sorrir?
Tenho muitas dúvidas sobre a nossa capacidade de nos fazermos ouvir nas decisões do país, mas espero que isso aconteça. Estremoz tem capacidade empreendedora, uma boa localização e acho que durante muitos anos ficámos fora da esfera de influência de quem governa e dos locais em que havia decisão. Espero que não fiquemos de fora novamente e que quem decide tenha a disponibilidade de ouvir, mas também quem está a representar Estremoz possa fazer ouvir a sua voz e tenha a capacidade de, no fundo, dizer que Estremoz também tem que ser levado em conta.

Jorge Manuel Pereira

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